Na Catalunha e Comunidade Valenciana

Milhares contestam<br>ofensiva antipopular

Centenas de milhares de catalães e valencianos contestaram nas ruas a política antipopular dos governos central e locais do Estado espanhol. A ofensiva ocorre quando o desemprego e a pobreza batem recordes.

 

«22,85 por cento da população activa não tem trabalho»

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Mais de 100 mil catalães manifestaram-se sábado, em Barcelona, contra as medidas de austeridade impostas pela Generalitat de Catalunya. Polícias, guardas prisionais, bombeiros, professores, auxiliares e educadores, profissionais de saúde e outros funcionários públicos, aos quais se juntaram milhares de trabalhadores do sector privado, rejeitaram o corte de 625 milhões de euros previstos pelo governo regional no orçamento deste ano, cujas consequências, acusam, vão recair sobre o povo.

Dois dias antes, quinta-feira, 26, nas cidades de Valência, Alicante e Castellon, cerca de 200 mil valencianos, segundo os sindicatos, também repudiaram os aumentos de impostos, os despedimentos e a não renovação de vínculos contratuais públicos, os cortes no financiamento dos serviços e o roubo nos salários, particularmente contundentes na Saúde e Educação, onde os trabalhadores podem vir a perder cerca de 400 euros de rendimento mensal.

Na Comunidade Valenciana, por exemplo, a brutalidade é tal que os alunos são já convidados a trazer de casa o papel para realizarem os exames escolares, reportou o El País.

A austeridade imposta pelas autoridades regionais decorre da orientação impulsionada pelo governo liderado por Mariano Rajoy, do Partido Popular.

No final da semana passada, o executivo central aprovou uma lei que obriga as 17 regiões a cumprirem orientações de défice zero nas contas públicas, dando sequência, aliás, à alteração constitucional promovida em Setembro de 2011 pelo então chefe do governo de Madrid, Rodriguez Zapatero.

Mariano Rajoy pretende que até 2020 a dívida soberana do Estado no seu conjunto não supere os 60 por cento do PIB. O objectivo merece o aplauso da chanceler alemã, Angela Merkel, e do grande capital espanhol, com quem Rajoy se reuniu antes da aprovação da norma denominada de «regra de ouro».

Para já, as autoridades centrais anunciaram cortes no investimento e despesa social na ordem dos nove mil milhões de euros e subidas de impostos orçadas em 6,3 mil milhões, mas para atingir um défice de 4,4 por cento do PIB no final de 2012, estima-se que o governo espanhol tenha de «poupar» entre 30 a 40 milhões de euros.

Na forja estão ainda reformas no sistema financeiro e na legislação laboral, prevendo-se, por isso, mais e mais austeridade para os mesmos de sempre.

 

Tristes recordes

 

A austeridade é imposta aos trabalhadores e à generalidade do povo justamente quando o Instituto Nacional de Estatística confirmou que o total de espanhóis desempregados supera os 5,2 milhões, isto é, oficialmente, 22,85 por cento da população activa não tem trabalho. A cifra é a mais elevada dos últimos 17 anos e o Banco de Espanha calcula que esta ainda não tenha atingido o seu pico máximo, projectando para o final de 2013 uma taxa de desemprego a superar os 23,2 por cento.

Entre os jovens a situação é dramática, com mais de 51,4 por cento dos activos entre 16 e os 24 anos atingidos pelo flagelo.

Os mesmos indicadores revelam que o número de lares onde todos os membros se encontram desocupados ascende a quase 1,6 milhões, número que se torna ainda mais brutal quando se sabe que o total da população activa decresceu em quase 350 mil indivíduos no último período.

Neste contexto, não é de estranhar que a Rede Europeia de Luta Contra a Pobreza e a Exclusão Social afirme que, no Estado Espanhol, mais de 11,6 milhões de pessoas estão em risco de pobreza, isto é, aproximadamente 25 por cento da população.

Extremadura, com mais de 40 por cento, e Navarra, com cerca de 10 por cento, representam os dois pólos opostos do problema por região, mas Murcia, com 36,1 por cento, Andaluzia, com 35,9, Canárias, com 35,3, Baleares, com 25,8, Castela, com 30,9, Ceuta, com 37,7, e Melilla, com 37,3, registam índices acima da média nacional, de acordo com informações divulgadas pela EFE.

 

Sem asas para voar

 

Entretanto, a companhia aérea Spanair decretou bancarrota deixando mais de 3500 trabalhadores na incerteza. Fundada em 1986, a transportadora operava fundamentalmente em voos domésticos e, recentemente, organismos públicos como o governo da Catalunha entraram na estrutura accionista da empresa com o objectivo de a manter em actividade. A política de austeridade imposta às regiões terá decretado a falência.



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